Leu porque quis, não me encha o saco.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Já que eu não ia embora tão cedo, dei um pulo no posto e comprei duas Smirnoff Ice. Quando estava quase na hora de ir embora, tomei a primeira. Bom, vamos combinar que o negócio é ruim, ainda mais essa nova, a Black. Mas quem falou que eu queria que fosse gostoso? Sendo ruim eu bebo mais rápido, já que eu nem estava afim de apreciar o bouquet da bobagem e sim acalmar as idéias. Quando a primeira garrafa acabou, parecia que eu tinha acabado de dar um mergulho num dia muito quente, foi quase a mesma sensação. Quase, porque mergulhar não dá azia e junto do último gole veio aquela queimação filhadaputa que nem Milanta tá resolvendo. Peguei meu carro, pus o cd do Liars (que eu tenho ouvido em loop nos últimos dias) e fui pro JukeJoint passar o som. I no longer want to be a man, I want to be a horse, men have small hearts, I need a tail, give me a tail, tell me a tale of the children that stood in the way of the endless winter e eu fui ficando transtornado a medida que ia virando a segunda garrafa de vodka infantil. Já era tarde, eu tinha trabalhado mais de doze horas, como de costume, e usualmente estava irritadíssimo, como de praxe, concordando plenamente com aquela idéia de querer ser um cavalo. I, I am the boy, she, she is the girl, he, he is the bear, we, we are the army you see throurgh the red haze of blood, blood, blood, blood. E eu ficava cantando blood, blood, blood e babando ao mesmo tempo, porque eu estava com vontade de vomitar, aquela vodka maldita caiu como um copo de tachinhas no meu estômago e eu cheguei no JukeJoint e resolvi dar uma caminhada pela chuva pra ver se passava aquela sensação de ter um buraco no meu estômago e outro dentro da minha cabeça e eu andei, andei, subi quase até a Paulista pela Augusta e a cada puteiro que eu passava alguém me oferecia xoxotas em promoção, lindas garotas e eu querendo vomitar aquela porcaria do diabo então eu tapei os ouvidos pra não ter mais que ouvir as pessoas falando comigo e eu estava ficando ensopado achando que se não morresses de dor de estômago eu ia morrer de pneumonia no dia seguinte o que de forma alguma ia ser agradável, já tive princípio de pneumonia duas vezes e foi horrível, até hoje não consigo escutar um cd do Porno for Pyros porque me lembro de quando tive isso e custou pra passar não tanto quanto estava custando pra passar todo esse processo de não conseguir parar de pensar e não conseguir prestar atenção em outra coisa senão na dor do estômago e não tinha uma farmácia aberta daí eu lembrei que estava de jejum havia o dia inteiro então parei numa padaria e comi um pedaço de pizza de muzzarela e eu nunca comi uma pizza tão deliciosa minha vida toda, era a pizza de muzzarela mais perfeita e suculenta e salgada no ponto e sublime que eu já havia comido, tudo isso por um real e sessenta centavos.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Colocou tudo numa caixa, pôs no armário. Um dia ele pensa em abrir a caixa e tomar as devidas providências com aquelas fotos, aqueles lenços, aquelas cartas, documentos. A providência mais sábia seria queimar tudo aquilo, mas antes , antes, tanta coisa pra fazer, pintar os armários, mas a casa não era dele, primeiro, comprar uma casa para depois pintar as portas dos armários para depois abrir a caixa e queimar tudo para seguir em frente sem se preocupar com um punhado de fotos e documentos antigos que ele não tinha pra quem deixar e toda noite quando ele deitava de frente praquela porta que escondia a caixa ele revia o processo das escolhas que haviam para serem feitas e nada como empurrar tudo com a barriga que cada dia ficava maior para conseguir achar que ele não estava adiando a coisa, mas só colocando as coisas no lugar na sua devida ordem. E o barulho da rua não importava mais, não era maior do que a vizinha arrumando os móveis todos os dias ela parecia mudar tudo de lugar, ele não, desde que se mudou as coisas continuam no mesmo lugar e só de pensar em mudar era como se um o teto caísse por sobre seu corpo, uma cãibra, uma dormência, melhor não. Melhor que arrumar a casa era sair e beber e toda noite ele bebia e ainda bebe e os dias passavam muito rápido, menos quando ele tinha que trabalhar até tarde mas nada mais providencial que morar numa cidade grande, não importava até que horas ele trabalhava ele fazia questão de sair e beber porque arrumar a casa ele não ia mesmo, dormir ele não queria pra ter que se deitar na frente daquela porta mal pintada que escondia a porra daquela caixa desgraçada que guardava toda uma segurança que não existia mais e por estar fadada a não existir um dia, nunca foi de fato um estofo, foi um estepe, um estepe que ele teimou em aceitar sem piscar e usar de desculpa para não fazer as coisas direito e então ele se jogou no chão e tentou bater a cabeça com toda a força nos tacos raspados mas doeu, como doeu, achou melhor não comentar isso com ninguém, só com os cachorros porque eles não entendiam nada mesmo e só queriam saber de subir no sofá e tentar ver teve como se isos fizesse alguam diferença porque no fim nada fazia muita diferença nem esse emprego estúpido que ele mantinha por pura falta de perspectiva e por tédio também, achava melhor se ocupar a contragosto do que se culpar pela falta do que fazer e ele tinha que comprar comida para os cachorros que ele tem a contragosto e que a contragosto deixava subir no sofá por preguiça de mandar descer, desce, desce, desce puta que pariu, desce, desce, desce, quem te convidou, quem falou que eu quero ouvir alguma coisa, quem falou que eu quero ficar aqui até agora, quem disse que eu tenho que fazer qualquer coisa, quem falou está dentro daquela caixa, aquela caixa abarrotada de coisas que devem estar mofando, que deviam ser queimadas por pura dignidade, por higiene, desce, desce, desce, vamos arrumar essa bagunça um dia, um dia, eu prometo, um dia, um dia, vou descer essa caixa e vou arrumar e vou sair na rua e vou andar até a sola do sapato acabar, até não sobrar um pedaço de borracha e vou encontrar dignidade e paz de espírito, sem as coisas dentro daquela caixa, as coisas que restaram e que eu recolhi na caixa, eu tenho até medo de abrir aquela caixa e exumar o que eu acho que me dá algum sossego, mesmo que seja só uma breve idéia, um deja vu, algo que poderia ter sido e não é mais, nunca vai ser, e os cachorros que não descem não descem não descem sefossemmaislimpossefossemmaislimpossefossemmaislimpossehouvessealgumadignidadesenãohouvesseacaixa.

terça-feira, outubro 05, 2004

De repente eu tinha doze anos de novo. Não conseguia mais olhar no rosto, devia estar fazendo a cara mais patética dentre todas da minha coleção. Todos os assuntos se perderam no vácuo das minhas expectativas (u u) e sorrir não parecia ser a solução mais pertinente. Quer beber? Não podia. Vamos sentar ali no sofá então, mais confortável. Descontrai, vamos, descontrai. Do que estávamos falando mesmo? Não sei. Não faço idéia. Tanto fazia. Era euforia misturada com desconforto e saudades e insegurança e vodka e a plena certeza de que eu estava sendo um chato mas ao mesmo tempo acreditando, porque o importante é acreditar, que se fosse pra ser ia ser de qualquer jeito, tá.
Pode ser que tudo tenha dado errado no fim, eu não sei. Não tenho idéia, nunca tive, de como funcionam essas coisas. O pouco que eu sei diz respeito a minha pessoa que eu achava estar calejada o suficiente para nunca mais passar por essas situações. Quem diria.